Empresários negros têm o seu pedido de crédito negado três vezes mais do que os brancos no Brasil. A afirmação é de Eugene Cornelius Junior, chefe do escritório de comércio internacional da SBA (Small Business Administration), agência do governo dos Estados Unidos que oferece serviços de apoio à pequena e média empresa semelhantes ao Sebrae.Cornelius Junior esteve no Brasil para participar do evento “Desvendando os Códigos do Afro-Empreendedorismo”, promovido pelo Instituto Feira Preta e Black Codes, em parceria com o Consulado Americano, em São Paulo, e o Cubo Eventos. Segundo ele, a diferença de tratamento entre empresários brancos e negros, quando o assunto é acesso ao crédito, é mais real do que imaginamos.
“O fato de eles não ocuparem posições de gerenciamento e cargos executivos atrapalha a sua capacidade de crescer profissionalmente, e, no mundo dos negócios, de ter acesso ao crédito.O executivo americano também diz que, ao não oferecer crédito para uma fatia importante da sociedade brasileira, já que os negros representam 54% da população, o Brasil prejudica a sua própria economia. “Eles são a maioria da população, se não têm de quem emprestar o dinheiro dentro da família ou de amigos, na maioria das vezes eles não têm capital para iniciar ou expandir o seu negócio. Isso impacta diretamente e de forma negativa no PIB [Produto Interno Bruto].
Para ele, os setores público e privado deveriam fazer várias ações para promover o empreendedorismo e o acesso ao capital pelos negros. “É possível criar programas de desenvolvimento, ver quais as forças de trabalho necessárias para viabilizar novos negócios, o que é preciso para produzir mais, gerar mais empregos e oportunidades para a população. Isso refletiria de forma positiva no Brasil como um todo e não, apenas, para os afrodescendentes.
Negros devem ocupar mais cargos de liderança
Cornelius Junior afirma, porém, que antes de iniciar qualquer uma dessas medidas, é preciso aumentar a confiança da população negra sobre a sua capacidade. “A confiança da população negra sobre a sua capacidade.”A confiança da população afrodescendente deve ser desenvolvida. É preciso que mais negros ocupem posições-chave, cargos que tomem decisões e que são responsáveis por colocar em prática essas políticas para que eles saibam que estão sendo representados e que são bem-vindos.”O executivo diz que a discriminação racial não é um problema exclusivamente brasileiro.
“O que torna o seu impacto mais profundo no Brasil é a proporção da população negra. Se considerarmos que apenas 13% da população dos EUA é afrodescendente, e, no Brasil, esse número salta para 54%, o fato de eles não ocuparem ocuparem cargos executivos é mais representativo.Ele declara, também, que não acredita que o racismo sofrido pelos empreendedores negros brasileiros seja deliberado, mas sim inconsciente.”A discriminação racial foi herdada, e quando há falta de negros ocupando cargos de liderança, estamos criando estereótipos. Dá para perceber que, nos últimos dois anos, o Brasil tem mudado, e o país tem uma oportunidade de ouro para reverter esse quadro e permitir que a mudança seja feita de forma mais agressiva.
Órgão americano tem programa de crédito no Brasil
Desde o ano passado, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) promove, no Brasil, o Inova Capital -Programa de Apoio aos Empreendedores Afro-Brasileiros- com o objetivo de identificar empreendedores negros o com ideias inovadoras, negócios de alto potencial de crescimento e com impacto social e ambiental, preparar os afro-empreendedores para receber investimento e apresentar seus negócios a investidores.
Segundo Cornelius Junior, a iniciativa é importante, no caso do Brasil, devido à falta de apoio que a comunidade negra recebe.”Ele tem de superar um ambiente que não dá as boas-vindas para ele. É uma batalha que nem todo mundo deveria ter de lutar. Se houver uma visão, uma vontade de mudar este cenário, teremos mais pessoas bem-sucedidas.
Fonte: UOL