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Ilka Danusa, mulher de negócios, comunidades e sustentabilidade!

 

Sempre falo da importância do planejamento nos projetos que coordeno, nos diálogos que tenho, nos espaços onde atuo.

Publicitária, especialista em Gestão da Comunicação Organizacional Integrada com MBA em Gestão de Negócios Sustentáveis. Ela é uma destas mulheres futuristas que te convida a pensar a longo prazo e que vale a pena passar horas refletindo sobre como se espera estar a 5, 10 ou 15 anos.

Uma das fundadoras do Instituto Mídia Étnica, ela já coordenou diversos projetos de relacionamento comunitário em empresas do segmento de óleo e gás. Estamos falando de uma mulher negra que acumula experiência junto a setores que não se tem muita representatividade. Com vocês, uma profissional em responsabilidade social, que com seu trabalho colabora para uma mudança social em comunidades do interior do Brasil, Ilka Danusa.

 

Você é uma das Fundadoras do Instituto Mídia Étnica, e tem uma ampla experiência com a comunicação corporativa empresarial. Como ambas as experiências dialogam com a pauta racial?

Ilka Danusa – Estar com o IME fez toda diferença em minha carreira. O Instituto Mídia Étnica sempre foi para mim um espaço de aprendizado, retaguarda e para traçar estratégias de empoderamento. A formação que tive me fez reconhecer os nossos e planejar estar mais próxima deles, para apoiar e aprender. Em uma das empresas que atuo até hoje, fiz questão de formar uma rede forte com os/as profissionais negros/as que conheci, uma rede de cuidado. Isso só foi possível graças aos aprendizados no Instituto, que sempre nos passou a importância do apoio e do fortalecimento entre nós.

 

A experiência no IME também me ajudou a ser mais firme e dura com as situações de racismo que percebia, a pautar a necessidade de visibilizar as nossas lutas, o nosso povo e no respeito às comunidades que trabalho. Sempre briguei internamente por estas questões, com fornecedores, nos grupos de trabalho que atuava e nas reuniões comunitárias que participo.

 

Em suas palestras você fala sobre planejamento pessoal e projeto de vida. Como o planejamento estratégico pessoal pode contribuir para redução das vulnerabilidades vividas por um (a) jovem negr(o) a? Como desenvolver um?

 

Ilka Danusa – Sim! Eu defendo sempre a necessidade de planejamento. Precisamos pensar a longo prazo, porém eu sei que pensar a longo prazo sendo negro/a no Brasil é difícil. Um planejamento começa por uma análise de cenário, se formos fazer uma matriz de SWOT para a juventude negra, os fatores externos não nos favorecem. As oportunidades são mínimas e as ameaças são muitas. Isso é muito triste. O planejamento pessoal pode ajudar numa carreira mais sólida, numa vida financeira mais segura, num negócio mais rentável e numa vida pessoal mais tranquila. Quando falamos de jovens negros/as, estamos falando também em famílias negras, se pensarmos de forma mais planejada, podemos promover uma mudança do pontual para o sistêmico. É uma estratégia.

O que contribui para que algumas pessoas negras fracassem em seus planejamentos pessoais? Como você contribui para que eles tenham sucesso?

 

Ilka Danusa – Não vou falar de fatores externos (viver num país racista, por exemplo), mas estes não podem deixar de ser considerados. Como disse, todo planejamento passa por uma análise de cenário e os fatores externos (aquilo que não depende de nós) pode inviabilizar um objetivo/projeto de vida. Acredito que alguns fatores pessoais contribuem para um planejamento malsucedido. Vou citar uns: falta de paciência, prazos inexequíveis, falta de foco, falta de cuidado pessoal, baixa autoestima e a não cultura do planejar. Sobre este último, vou contar minha experiência: eu cresci vendo minha mãe sendo a administradora da casa, ela fazia o dinheiro e o seu tempo multiplicar. Ela planejava e explicava para nós o que estava fazendo: “com 15 anos vou abrir uma poupança para você”; “com 17 anos eu vou te colocar na autoescola”. Éramos uma família com limitações financeiras, e ela participava de “caixas” para realizar estas coisas. Eu aprendi muito com ela.

Sobre como contribuo, sempre falo da importância do planejamento nos projetos que coordeno, nos diálogos que tenho, nos espaços onde atuo. Tenho projetos para 2018 voltados para organizações negras e feministas, de desenvolver oficinas acessíveis para este público; e quero falar mais sobre isso com os/as jovens também.

 

Em um dos seus artigos, você fala como as organizações feministas e o setor privado dialogam e se percebem. Fale um pouco sobre esse olhar.  

 

Ilka Danusa – Nestes 10 anos trabalhando e estudando de forma mais intensa sobre temas ligados a sustentabilidade, duas coisas me incomodaram: a ausência de profissionais negros pensando projetos de relacionamento comunitário e a falta de alinhamento da Sociedade Civil com as estratégias corporativas. Os setores não estão alinhados e os esforços são isolados e se continuarem assim demoraremos muito tempo para conseguirmos a equidade racial e de gênero que queremos. O 3º setor precisa se atualizar e o segundo setor precisa melhorar sua comunicação com a Sociedade Civil.

As organizações negras precisam planejar estratégias para atuação em diversas frentes. Necessitamos entender as estruturas que concentram recursos e brigar por elas. Percebo que as nossas organizações concentram suas energias negociando apenas com o poder público e esquecemos que quem financia o país é o setor privado. Precisamos preparar nossos jovens para ser tanto presidente/a da república como para ser CEO de grandes empresas.

Publicado originalmente no portal Soteropreta