Por: Fau Ferreira
Black Money, uma palavra que está na moda e no topo das hastags entre o povo preto esse ano. Surgiu nos Estados Unidos quando os negros americanos decidiram se organizar e fazer com que o dinheiro deles circulasse entre seu próprio povo a maior quantidade de vezes possível antes de ir parar nas mãos de pessoas brancas. Com essa iniciativa, os negros americanos conseguiram o crescimento dos seus negócios nas diversas áreas criando inclusive bancos totalmente fundado e presidido por negros.
No Brasil, o termo se tornou mais popular a partir de 2016 quando começaram a surgir iniciativas de redes de negócios e apoio mútuo entre negros. Nós negros começamos a perceber que precisamos nos unir para nos fortalecer e o dinheiro é peça fundamental neste fortalecimento. Não existe empoderamento efetivo sem passar pelo empoderamento econômico.
É através da economia que um país, uma comunidade, uma pessoa se desenvolve. Num mundo capitalista, o dinheiro é necessário para a nossa sobrevivência, bem estar e crescimento em qualquer área. Sem dinheiro não conseguimos acesso a bons profissionais de saúde, educação de qualidade, livros e cursos que nos ajudarão a realizar conquistas cada vez maiores. A comunidade negra brasileira precisa entender e criar essa mentalidade. Precisamos fazer do dinheiro nosso amigo. Ganhar e reter dinheiro é necessário. E fazê-lo circular entre mãos negras para que possamos ter mais possibilidades nesse país. Para que as próximas gerações de negros sofram menos com essa desigualdade racial.
Uma dessas primeiras iniciativas que se tornou conhecida em todo o Brasil é o Movimento Black Money, criado pela Nina Silva que tem como pilar de trabalho “a disseminação da filosofia de descrença dos poderes/intenção do Estado no sentido de justiça e equiparação racial, além da promoção do associativismo entre empreendedores negros e comunidade negra a fim de fortalecer o afroconsumo e impactar a qualidade de vida de todos nós negros dentro de uma visão Panafricanista.”
Hoje já encontramos diversas iniciativas de formação de rede entre empreendedores negros como o afroempreendendo , o Movimento Black Money, o wakanda warrios entre outras, com o principio de difundir a mentalidade de colaboração entre nosso povo para o crescimento conjunto.
Mas, porque é necessário praticar o Black Money?
Vamos olhar ao nosso redor. Quem são os donos das empresas mais conhecidas e lucrativas do país? Quem são as pessoas que estão nos principais cargos dessas empresas? Quem são as pessoas de referencia no campo dos negócios? Quem está na alta escala de poder? Quem está no topo da pirâmide financeira?
Para todas essas perguntas, uma só resposta, pessoas não negras. Já os negros tem menos acesso a educação, mas dificuldade de entrar no mercado de trabalho, se ascender na carreira, de ter acesso ao dinheiro. Os empreendedores negros tem mais dificuldade de acesso ao crédito nas instituições bancárias tradicionais e estão empreendendo em atividades mais simples se comparadas a empreendedores não negros e tem faturamento abaixo destes.
O Black Money visa ao longo prazo mudar esse cenário através da “invasão” desses espaços pelo nosso povo, assim como, a criação das nossas próprias instituições. Seguindo, o exemplo dos negros americanos, já temos iniciativas como a Conta Black – um banco digital feito por negros para negros.
E como podemos fazer isso na prática?
Temos que manter o nosso olhar para o nosso povo diariamente e com ações simples conseguimos realizar o Black Money: Comprar roupas, livros, discos, peças artísticas de empreendedores e artistas negros; Contratar profissionais autônomos negros advogados, dentistas, psicólogos, designer, etc. Escolher ser atendido pelo vendedor negro na loja. Contratar pessoas negras para trabalhar com você. Assistir youtubers negros. Indicar palestrantes negros.
Esses são apenas alguns exemplos. Você pode pensar na sua própria forma de fazer o Black Money. E depois vem aqui compartilhar com a gente.
O Black Money vai além de uma consciência de classe é uma forma de resgate da nossa identidade africana, resgate da forma de viver em comunidade como nossos antepassados. Vamos reconstruir nossa realidade!
Fau Ferreira é filósofa, escritora, palestrante, analista do Sebrae Bahia e criadora do Afroempreendendo.