No último final de semana, tivemos a oportunidade de revisitar um espaço de construção feminista depois de tanto tempo. O que mais nos deixou chocada, foi está diante de mulheres das mais diversas origens, cores e lutas e perceber como tem uma violência que nos une, o descompromisso afetivo. Primeiro, que compreender este descompromisso enquanto uma Violência, é uma tarefa complexa, por conta do que entendemos como Violência. Acreditamos sempre, que esta perpassa pela agressão física ou violência sexual, mas por vezes negligenciamos as dores causadas pelo machismo, como apenas um desconforto psicológico, e deixamos de perceber que muitas dessas dores só se perpetuam por conta do Status Quo dado aos homens, nesta sociedade patriarcal, onde estes se sentem livres para nos insultar ou nos deslegitimar nos espaços de poder e no campo da afetividade.
Claro que como mulheres negras que se pautam por outra conjuntura de luta feminina, confessamos que ficamos chocada e sinceramente mexida por ver mulheres com todos os padrões de belezas desejados pela sociedade, e que partilham de todos os privilégios que a racista, lhe confere, chorarem as dores da solidão por terem feito a escolha da luta política e não querer ser salva pelo “ príncipe” mesmo já tendo enfrentado dores por conta de violência doméstica , estupro ou desrespeito ao chegar nos espaços de luta política que muitas vezes as trata como a “ vagina” da rodada pelo simples fato de ser mulher em espaço de disputa ou direção e que após estes diversos momentos ver nesta a possibilidade de emancipação.
Não tenho dúvida que as nossas lutas e demandas, nos separam em alguns momentos da luta feminista nos moldes brancos, mas a violência emocional que vem acontecendo com o nosso apoio é prejudicial à mulher em qualquer situação. Digo que esta violência tem nosso apoio, por vermos todos os dias homens e no nosso caso falamos de homens parecidos conosco, destruindo a cabeça e o emocional destas todos os dias sem perder os privilégios ou ser deslegitimados por suas posturas nem por nós mesmas, ditas feministas e que presencia estas dores.
Durante a Oficina, ouvimos aquelas mulheres falando de suas bravuras e sobre os seus primeiros momentos na política.Em muitos deles, sendo desqualificadas, destroçadas e desrespeitadas, de todas as formas por homens ditos de esquerda e parceiros de luta. Em todas as falas, estas traziam relatos de como ao começar a se destacar em espaços políticos, estes parceiros de maneira covarde as tentavam deslegitimar via emocional ou trazendo detalhes de suas experiências afetivas e sexuais, ou como suas trajetórias eram apagadas, em favor do laço que as unia a estes parceiro. Muitas vezes ouvimos que “Feminismo pautado em sentimento, não é Feminismo”, mas é importante compreendermos que isto é Feminismo.Falar de nossas dores, das tensões causadas por este modo de vida patriarcal, que só enxerga o homem enquanto sujeito e legitima suas diversas relações descompromissada,é reconhecer opressões.Se ver e se enxergar naquelas mulheres, é Sororidade (Solidariedade Feminina), e isto é de extrema importância, para como disse Audre Lorde, “construir um mundo, onde todas nós possamos florescer”. As falas das Companheiras, demonstram como o machismo pode ser perverso, e influenciar na ascensão política das mulheres. No caso das mulheres negras, que já sofrem com todos os estereótipos causados pelo Racismo, que as enxergam enquanto seres voltados ao sexo, e não aptas a ocupar espaços de poder, esta deslegitimação acaba encontrando eco, e afastando muitas mulheres destes espaços de decisão.
Acredito ser importante revisitarmos o que Bell Hooks, fala sobre o amor e o debate que ela traz sobre as relações afetivas das mulheres e homens negros. Como esta afirma, “ a Escravidão alterou significativamente a nossa forma de amar”, e como as mulheres negras, acabam se sentindo sozinhas e desorientadas por causa dessa solidão forçada, desse descompromisso afetivo, dessa deslegitimação que é política e como afirma Carla Akotirene Santos, mulher negra, feminista, destes “sentimentos deformados”. Digo isto por presenciamos todos os dias mulheres poderosas abaladas em seu emocional, muito mais do que no corpo se submetendo ao “poder afetivo” desproporcional, promiscuo e legitimado destes.
Fisicamente, pode não ocorrer à agressão, mas o moral e auto-estima são extremamente violados via o desrespeito com as relações vividas, com os excessos de traição e principalmente com esta síndrome de Peter Pan masculina que estes acham que serão criança para sempre, logo sendo permitido está com várias sem preocupação ou responsabilidade. A violência emocional é a mais silenciosa das formas de violência doméstica e, por isso, não é alvo da mesma atenção e continua sendo desqualificada de maneira tão desdenhosa por homens e o pior por outras mulheres. Este é um problema com tantas sutilezas que, muitas vezes, nem a própria vítima tem noção de que está a ser alvo deste tipo de abusos.
Cabe a cada uma de nós abrir o olho e exercitar a Sororidade e a prática do cuidado com as nossas. Que comecemos a despertar para este tipo de violência, e a constranger estes que são agressores, que não aceitam abrir mão dos seus privilégios, para a mudança de atitude. Isso também é Feminismo.Isso é pela vida e pela Saúde Emocional das nossas mulheres militantes.
Luana Soares -Historiadora \ Luciane Reis – Publicitária.