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Negros são 51% dos empreendedores brasileiros, mas ainda são os que mais enfrentam dificuldades para gerir seus negócios

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A porcentagem desse grupo populacional em situação de inadimplência também é maior do que pessoas brancas

KÉREN MORAIS E SÂMYLLA MONTEIRO

A 13ª Pesquisa de Impacto do Coronavírus nos Pequenos Negócios, realizada em 2020 pelo Sebrae, em conjunto com a Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta que os empreendedores negros estão encontrando dificuldades para retomar com seus negócios.

O mesmo estudo ainda mostra que porcentagem de afrodescendentes em situação de inadimplência é maior do que de pessoas brancas, são 35% contra 27%, respectivamente. E isso dificulta o acesso ao crédito, que é um dos maiores problemas enfrentados por essa população.

A desigualdade se reflete também no mercado de trabalho. Apesar da população negra ser maioria no ramo do empreendedorismo, somando mais de 50% do total de negócios, segundo levantamento também feito pelo Sebrae, ela ainda é a que mais enfrenta dificuldades para abrir, gerir e expandir seus empreendimentos, e isto só se agravou em meio a pandemia de Covid-19.

A gaúcha Dirlene Silva, mulher negra, economista e empresária afirma que isto é fruto do racismo estrutural. “Quando falamos de afroempreendedorismo no Brasil, isso representa 51% dos negócios liderados por pessoas pretas. Ao falar de volume de dinheiro, isso significa valores altos, com papel econômico de subsistência e social muito forte’’, afirma.

Maurício Delfino, fundador da marca DaMinhaCoR, que oferece virtualmente diversos produtos voltados à população negra, como as toucas de natação que se adequam aos cabelos crespos e tranças, toucas descartáveis para profissionais da saúde e linhas de maquiagem que dispõe de diferentes tons para a pele negra, deixa claro que além das dificuldades financeiras, a discriminação velada é outro fator que atrapalha os seus negócios. 

“Até este momento temos uma resistência muito grande de locais e pessoas que não entendem que é preciso ter produtos adequados para nós, comunidade negra. O nosso maior desafio ainda é sensibilizar os tomadores de decisão de que é importante você ter um produto pensado para a população preta”. Para o empresário, a segunda barreira é em expandir, pois para oferecer mais produtos é preciso acesso ao crédito. “Ter crédito no Brasil é muito difícil, quando se é negro, é mais complicado ainda’’.

A especialista em economia Dirlene, explica o motivo dessa discriminação. “Há um racismo estrutural, que vem desde o início da colonização do país, acho que esse é o maior desafio de todos”. Apesar de compreender que o racismo é um problema antigo e um marcador social ainda hoje, ela enxerga o futuro com otimismo. “Eu tenho 48 anos e vivi em um mundo muito branco, onde o negro era vítima de racismo. Nós ficávamos constrangidos e sem apoio. Atualmente, vejo uma mobilização social não só do próprio negro, pois a luta contra o racismo não é uma luta de negros contra brancos, mas de toda a sociedade em prol de um mundo melhor’’.

Dirlene propõe que para além da conscientização coletiva e da democratização das oportunidades, o que pode ser feito para melhora deste cenário é o negro reinventar a sua forma de fazer negócio, se qualificar cada vez mais e buscar investidores alternativos. “Hoje existem outras formas de crédito além dos bancos tradicionais. Temos várias associações de empreendedores, bancos com programas destinados a afro empreendedores, é preciso ir em busca dessas alternativas’’.

Segundo a especialista, a pandemia gerou grande oferta de cursos gratuitos e aconselha que é importante estar sempre atualizado para não encarar as situações e oportunidades sem preparo.

Reinventando o negócio

Um exemplo de sucesso é a trancista e nail designer Nataliane Cardoso, dona do Dandara Studio, em Diadema. Mulher, negra, empreendedora e mãe, apesar das dificuldades que enfrentou para continuar com o seu negócio, ela seguiu trabalhando e se reinventando.Imagem / Fotografia por Kéren Morais 

A empreendedora começou pedindo trabalho nas redes sociais e hoje tem uma carteira de clientes consolidada, oferecendo diversos estilos de tranças. Além disso, com o tempo Nataliane passou a se especializar em alongamento de unhas em fibra de vidro com modelos de unha criativos.

“Tranças e unhas são os serviços que mais saem”, explica. Ela conta que o atendimento humanizado e inclusivo que oferece no espaço é também uma das razões pelas quais faz muitas clientes priorizem o seu trabalho na hora de escolher uma profissional. “ouvindo seus problemas e se importando de fato “Ouço os problemas das pessoas e me importo de fato. A troca que a gente tem é muito importante! ’’

Para a designer, seu diferencial é que ela não faz distinção de gênero, de raça. “Eu atendo todo mundo, gosto que tragam crianças. Muitas mulheres são mães e não têm com quem deixar os filhos e como eu também tenho uma filha que passa muito tempo sozinha, eu até peço para as clientes trazerem as crianças’’.

Apesar das várias dificuldades que pessoas negras colecionam para se colocarem no mercado de trabalho, estes empreendedores mostram garra e coragem ao encararem essas situações com determinação e inovação e com a retomada da economia, eles estão confiantes de que suas marcas irão decolar ainda mais.

De Universidade Metodista de São Paulo